O impacto das inovações tecnológicas
A tecnologia sempre existiu e nunca
deixou de se desenvolver. Rattner (1980, p. 57) define tecnologia “como sendo a
aplicação sistemática de conhecimentos organizados e científicos para a solução
de tarefas práticas.” Destaca que
no âmbito do mundo capitalista a tecnologia é considerada sob todas as formas
possíveis: produtos, máquinas, equipamentos e processos.
No final do século XIX, a maioria dos trabalhadores do
campo ou artesãos ainda usavam instrumentos pré-industriais e mal sabiam eles
que a moderna tecnologia já estava a sua volta: bondes movidos a eletricidade,
luz elétrica, telefone, cinema, máquina de escrever, calculadora de teclado,
rádio, fonógrafo, carro. (DRUCKER, 1971). Desde então até os nossos dias, as
inovações tecnológicas têm impactado significativamente sobre a sociedade e o
comportamento de seus membros, não tanto pela evolução em si, mas pelo ritmo acelerado
como acontecem.
Na agricultura, na indústria e na prestação de serviços,
as máquinas estão conseguindo eliminar o trabalho humano e substitui-lo com
muito mais eficiência, atingindo, de certa maneira, o desejo dos empresários de
terem uma fábrica sem trabalhadores e um escritório sem papel. A produtividade
melhora, o lucro aumenta e o trabalhador perde seu espaço de trabalho para as
máquinas. É o desemprego aumentando vertiginosamente e comprometendo seriamente
o poder aquisitivo das pessoas. Com isso, também, está se desfazendo a suposta
“mágica” da tecnologia, que, conforme Rifkin (1995, p. 15), é a lógica da
política econômica por mais de um século, ou seja, “novas tecnologias fomentam
a produtividade, reduzem custos de produção e aumentam a oferta de produtos
baratos, que por sua vez aumentam o poder aquisitivo, expandem mercados e geram
mais empregos.” Hoje, depois de o homem viver décadas envolto e
hipnotizado por esta “mágica” que vendia previsões para lá de otimistas, as
novas tecnologias estão finalmente causando seu impacto.
As novas
tecnologias de informação e de comunicação começaram a impactar com estruturas
administrativas complexas, principalmente a partir do momento em que o
computador entrou em
cena, nos anos 40. Nas primeiras décadas, o computador manteve-se distante
do homem comum devido à necessidade de ambiente especial, pessoal técnico
especializado, linguagens pouco acessíveis, alto preço e grande volume físico.
Depois dos anos 80, o desenvolvimento de novas
tecnologias de informação e de telecomunicações, entre as quais as redes de
cabos de fibras óticas, sistemas de chaveamento digital, transmissão digital,
comunicações por satélite, para citar apenas algumas, tornaram real a ligação
entre computadores, criando-se as redes de computadores. Esses avanços
tecnológicos abriram caminho para a entrada, em definitivo, do computador nos
escritórios.
Paralelamente, cresce a necessidade das organizações de
racionalizar métodos, reduzir custos e aumentar a produtividade do escritório.
E o computador veio responder a uma
ansiedade das empresas que não podiam operar com confiabilidade e rapidez o
volume crescente de seus dados.
Muitos anunciaram
o nascimento do escritório do futuro, do escritório sem papel, do escritório
automatizado, do escritório eletrônico. Indiferentemente à denominação, a
verdade é que, nas últimas três décadas, as novas tecnologias invadiram os
escritórios, provocando uma série de mudanças na maneira como eram feitos
determinados trabalhos.
Nos escritórios, a introdução do
computador afetou, por exemplo, o trabalho do secretário, que vinha destinando
muito tempo de seu expediente a tarefas rotineiras, repetitivas e monótonas,
como é o caso da datilografia. O computador chegou justamente para se
encarregar destas tarefas meramente operacionais, imprimindo mais rapidez e
executando as tarefas que requerem eficiência, para que o secretário pudesse se
ocupar mais com as que requerem eficácia, ou seja, dar atenção às coisas
certas, visto que o computador processa as coisas da maneira certa.
Se voltarmos à época da Revolução Industrial, vamos
verificar que muitas mudanças aconteceram em decorrência das novas tecnologias.
Era o mata-borrão, o lápis com borracha, as penas de aço, o papel carbono, a
máquina de escrever manual, a calculadora de teclado, o mimeógrafo e o telefone
presentes nos escritórios no final do século XIX. (RIFKIN, 1995).
Daí para a frente, até meados dos anos 70, com a chegada
do telex, da fotocopiadora, da máquina de escrever elétrica e, um pouco mais
tarde, da máquina de escrever eletrônica, a rotina para se enviar uma
correspondência era praticamente assim: o chefe ditava a correspondência ao
secretário, que, ao término do ditado, ia datilografá-la, levava-a para a
apreciação do chefe, este fazia algumas correções e eliminava uma ou outra
frase, se fosse o caso. Então, o secretário redatilografava a correspondência o
número de vezes necessário, até que não houvesse nenhum erro, apresentava-a ao
chefe para assinatura, passava na sala da reprografia para fazer uma fotocópia
para o arquivo, voltava a sua mesa, envelopava a correspondência, esperava o office-boy para levá-la ao correio e
ser, finalmente, enviada.
Dependendo do assunto, era enviado um telex, mas o
esquema do ditado e aprovação era o mesmo. Assim como era idêntico o processo
do envio de um comunicado interno ou de um memorando, que era entregue pelo office-boy ou contínuo, como era chamado
em algumas organizações, diretamente na sala do destinatário. O escritório
passou a ser uma fábrica de circulação de papéis.
No Brasil, com a chegada de microcomputadores com software para processamento de textos,
os profissionais que trabalhavam nos escritórios começaram a ter algum tempo
disponível para tarefas menos repetitivas do que a datilografia e
redatilografia de documentos. A vantagem dessa inovação tecnológica era que,
uma vez digitado, um contrato não precisava ser digitado novamente após a
revisão, para a correção de erros ortográficos, por exemplo. Era preciso
digitá-lo, salvá-lo num arquivo no computador e quando pronto, imprimi-lo em
quantas vias fosse necessário. Agilizou o envio de documentos. Porém, não
diminuiu a quantidade de papéis circulando no escritório, e a necessidade de
fichas para os mais diversos controles.
Em algumas organizações, o uso do computador, a partir
dos anos 80, eliminou a perda de tempo, mas para que a lentidão dos escritórios
desse lugar à rapidez, e a eficiência à eficácia, foi preciso que se usasse a
tecnologia de informação e de comunicação como suporte.
No decorrer dos anos 80 e 90, com muito mais velocidade
do que antes, novas tecnologias foram
introduzidas nos escritórios: aparelhos de fax, secretária eletrônica, correio
de voz, correio eletrônico (e-mail), pager, videoconferência, teleconferência,
telefone celular. Todos possibilitam contato com uma pessoa a qualquer hora do
dia ou da noite, onde quer que ela esteja, além da Internet, que permite a
comunicação, indiferentemente do lugar, ao custo de impulsos locais. Tudo graças às novas tecnologias de
comunicação, como a transmissão por fibras óticas e por satélite. A comunicação
pela rede interna de computadores - a Intranet, também, vem facilitar a
localização e o uso de informações, bem como proporciona uma comunicação
interativa entre as equipes, mesmo em lugares diferentes.
Toda essa tecnologia altera consideravelmente muitos dos procedimentos administrativos. Elimina funções e categorias de trabalho e leva as organizações a uma completa reestruturação administrativa.
Toda essa tecnologia altera consideravelmente muitos dos procedimentos administrativos. Elimina funções e categorias de trabalho e leva as organizações a uma completa reestruturação administrativa.
Ninguém mais precisa ditar cartas e memorandos para sua
secretária datilografar e o office-boy
despachá-las. Praticamente todos têm acesso a uma tela de computador e a um
teclado para enviar e receber suas mensagens. O executivo, por exemplo, pode
digitar a mensagem em seu terminal e enviá-la à secretária para que faça a
formatação e a envie eletronicamente. Se for comunicação interna, ele mesmo,
via terminal, envia suas mensagens, do mesmo modo que as recebe e responde
através da rede interna de comunicação. Muitos papéis, desta forma, são
tirados de circulação e desocupam mesas de secretários, executivos e demais
empregados administrativos. Os telefones passam a tocar menos, pelo fato de a
comunicação acontecer via correio eletrônico. Viagens nacionais e internacionais de executivos são aubatituídas por teleconferências.
Em muitas organizações, as estações de trabalho (workstations), o escritório
inteligente, já são uma realidade. O lay-out
dos escritórios, sem as tradicionais paredes e as salas fechadas, permite
um trabalho mais integrado, além de acomodar as pessoas e os equipamentos de
forma harmônica. É a reengenharia espacial.
As organizações não podem parar de adotar as inovações
tecnológicas, da mesma maneira que seus empregados não podem deixar de se
qualificar para assumir sempre mais responsabilidades e estar preparados para
as novas tecnologias que os pesquisadores estão desenvolvendo, e que impactarão
o trabalho. A
tecnologia é criada para nos servir. É uma ferramenta que tem falhas, como nós
as temos também. É como diz Toffler (1980, p. 179):
Os computadores não são sobre-humanos. Quebram-se. Cometem erros...
algumas vezes erros perigosos. Não há nada de mágico neles, e certamente não
são “espíritos” ou “almas” no nosso ambiente. Entretanto, com todas estas
limitações, encontram-se entre as realizações humanas mais espantosas e
inquietantes, pois ampliam o poder da nossa mente como a tecnologia ampliou a
força dos nossos músculos e não sabemos aonde as nossas próprias mentes nos
levarão por fim.
Referências:
DRUCKER, Peter. Tecnologia, gerência
e sociedade: as transformações da empresa na sociedade tecnológica. (tradução de Luiz Carlos Lucchetti Gondim)
Petrópolis/RJ: Vozes, 1971.
RATTNER, Henrique. Tecnologia e sociedade: uma proposta para países subdesenvolvidos.
São Paulo: Brasiliense, 1980.
RIFKIN,
Jeremy. O fim dos empregos: o
declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global de
trabalho. (tradução Ruth Gabriela Bahr). São Paulo: Makron Books, 1995.
TOFFLER, Alvin. A
terceira onda. (tradução de João Távora) 13.ed. Rio de
Janeiro: Record, 1980.
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