Secretariado Executivo > cenário atual: busca por competência e comportamento ético (parte I)
É com grande satisfação que estamos aqui para
conduzir a reflexão inicial do XIX CONSEC sobre a relevância de se visualizar
as novas exigências para a empregabilidade diante do cenário posto. Cumprimento
a todos e todas presentes.
Inicio
minha reflexão com uma provocação por meio do seguinte questionamento: Que cor você escolheria para representar o
cenário atual se tivesse diante de si uma caixa de 24 lápis de cor?
Certamente,
antes de tomar a decisão de que cor escolher, em sua tela mental deslizaram
slides sobre a recessão econômica, a volta da inflação, o desemprego atingindo
a taxa de 11,3% - lembrando que em 2003 chegou a 12,3%), a desconfiança nas
lideranças políticas devido à corrupção desenfreada, desastres ambientais, falta
de respeito pelo ser humano – um matando o outro por nada, e por aí vai. Alguns
talvez visualizaram o cenário sombrio, desalentador, desanimador, frustrante,
do “nada vale a pena”.
Outros,
visualizaram o mesmo cenário econômico-político caótico, turbulento, confuso,
indefinido. No entanto, mantiveram-se confiantes, de que nada é para sempre, “há
sempre uma luz no final do túnel”, apontando oportunidades de crescimento pessoal
e profissional.
Há
pessoas que conseguem lidar com cenários de instabilidade, onde nada é
permanente, onde a certeza é a mudança, com mais facilidade que outros. Demonstram
uma capacidade de se adaptar diante das situações.
É tão certa a mudança,
que ela acontece em nossa vida diária, e muitas vezes nem nos damos conta
disso. Acontece na cidade, no bairro, na rua; mudança do número de telefone, do
endereço de e-mail, de provedor, de ideias, de amigos, do jeito de organizar a
sala de estar, de local de trabalho. A sociedade também está em movimento e
precisamos nos adaptar e mudar com ela.
“Tudo flui como um
rio”, já afirmava Heráclito de Éfeso (nasceu em 535 a.C.), filósofo
pré-socrático. “Não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, porque suas
águas não são as mesmas e nós também não somos os mesmos.” Tudo está em
constante movimento, nada é permanente.
O que diferencia uma
pessoa da outra, de forma geral, é a postura mais otimista que faz do cenário
atual, demonstrando uma capacidade adaptativa mais aguçada. Capacidade que
possibilita manter-se empregável, visualizar novos campos de atuação
profissional e buscar um diferencial competitivo. Mesmo diante de adversidades
e instabilidades consegue perceber oportunidades para ser e fazer diferente e
assim ser e fazer o melhor.
Outra pessoa, do
contrário, pode enxergar tudo perdido, e paralisa suas ações, auto sabotando o
seu querer fazer e ser melhor.
Assim,
como há profissionais que visualizam oportunidades diante do cenário
fragilizado atual, também há empresas/organizações que aprenderam a lidar com
cenários de instabilidade, onde nada é permanente, onde a mudança é a certeza. E estão indo além de ações pontuais,
abarcando novas oportunidades de negócios, com procedimentos e sistemas que
reduzem os impactos socioambientais (reengenharia de processos). Outras criam
novos nichos de negócios, investem em pesquisa e desenvolvimento; na capacidade
de inovação, em novos modelos de produção e gestão de negócios; no processo
contínuo de retenção e capacitação de talentos.
Por conta disso, estão em permanente busca por profissionais com a capacidade de se adaptarem a esse
constante movimento e mudança do mercado. Estão em busca de profissionais com
conhecimentos e qualidades comportamentais, que sejam aptos e capazes de
resolver problemas, com capacidade de decidir diante de situações que se
apresentam. Que saibam empreender. Para Eugênio Mussak (2003, p. 121), em seu
livro Metacompetência, empreender “é
fazer o que ninguém fez, encontrar novas soluções para antigos problemas,
antecipar respostas a perguntas ainda não formuladas, agilizar processos,
facilitar trâmites, acelerar resultados, colocar o sorriso antes do motivo para
sorrir.” Considera empreender uma
característica humana. Deixar de empreender é boicotar a sua própria essência.
Um profissional, com
característica empreendedora, para competir e ser empregável no mundo do
trabalho atual precisa desenvolver determinadas competências, porque apenas querer não é o suficiente para ter
empregabilidade e empreender. Como se diz no senso comum é preciso ter competência para se garantir no mercado de trabalho.
O
que é ter competência?
Mussak (2003, p. 52) define competência como “a
capacidade de resolver problemas e atingir objetivos propostos.” Chama atenção para a ligação entre competência e resultado, afirmando que
a competência é diretamente proporcional ao resultado obtido, porém
inversamente proporcional ao tempo consumido para atingi-lo e ao volume de
recursos (ou esforços) utilizados. Para se atingir a competência, apresenta a
equação: conhecimento x habilidade x atitude = competência, enfatizando a
necessidade de se equacionar os três elementos (saber, poder e querer) para se
obter o resultado esperado.
Para Wamser (2000, p. 91) a palavra competência
pode ser usada para “designar as capacidades que possibilitam a um profissional
exercer sua profissão com excelência e ser empregável, reconhecendo a sua
função social no contexto em que está inserido.”
Na mesma direção, Fleury e Fleury (2001, p. 188) definem competência como
“um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar,
transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico
à organização e valor social ao indivíduo.”
No caso dos profissionais do secretariado, a
sua empregabilidade precisa contar com o desenvolvimento de diferentes
competências, que Wamser (2010, p. 51) defende como essenciais, quais sejam:
competência técnica, comunicacional e social.
Ø Competência técnica na área de gestão: é importante para garantir o
domínio e a aplicação de métodos secretariais e gerenciais em áreas específicas
de atuação, fazendo uso de ferramentas, materiais, procedimentos, normas e
sistemas corporativos.
Ø Competência comunicacional: primordial para conhecimento e aplicação dos
princípios técnicos da comunicação oral e escrita, com o objetivo de aprimorar
a comunicação com clientes internos e externos e garantir a qualidade da
informação.
Ø
Competência social >
convivencialidade: fundamental para a convivência harmoniosa com as pessoas no
ambiente profissional e social, por intermédio do relacionamento e da
comunicação interpessoal, administração de conflitos e trabalho em equipe.
Ótimo! Resolvido! Certamente, não! A garantia da empregabilidade não está
unicamente no desenvolvimento dessas competências, que são endossadas quando se
faz o juramento no dia da colação de grau: “exercer
a profissão dentro dos princípios da ética, da integridade, da honestidade, e
da lealdade; respeitar a Constituição Federal, o Código de Ética Profissional e
as normas institucionais; buscar o aperfeiçoamento contínuo e contribuir, com o
trabalho, para uma sociedade mais justa e mais humana.”
Se fossemos considerar a mensagem advinda desse
juramento, transferida literalmente para o fazer e o agir no cotidiano do
Secretariado, teríamos automaticamente garantido a empregabilidade diante das
competências desenvolvidas, que estão definidas nas Diretrizes Curriculares
para os Cursos de Secretariado Executivo e, consequentemente, é o papel dos
cursos de Secretariado. No entanto, isso não basta para o mundo do trabalho
atualmente.
Falta o ingrediente primordial, para
não dizer, essencial: as qualidades humanas, que vão balizar o comportamento
ético do indivíduo no exercício de sua profissão. Valores de ética com os quais
devemos nos conduzir para uma convivência saudável em sociedade, viver e saber
viver com os outros. Solidariedade, compaixão, honestidade, lealdade,
generosidade, responsabilidade, são algumas das qualidades humanas apreciadas
em todos os contextos, inclusive no mundo corporativo.
O comprometimento com o grupo
profissional é uma estratégia para lutar por uma colocação no mercado de
trabalho. Decorre da conscientização e clareza por parte do profissional de Secretariado de que
ele integra um grupo profissional que é regido por uma legislação, um código de
ética e um escopo de atividades e atribuições que lhe são pertinentes. O
comprometimento resulta na criação de um vínculo que permite contribuir com o
grupo, sentir-se integrado e fazendo parte da construção da história desse
grupo.
Estamos
tratando da consciência de pertencimento, ou do sentimento de pertencimento de
um profissional a uma categoria profissional. Convém mencionar
que o sentimento de pertencimento também decorre do estado emocional, cultural
e social do indivíduo em determinado contexto. (FARINA, TRARBACH, 2009).
O sucesso no desenvolvimento de competências está no equilíbrio que esse indivíduo
tiver em todas as instâncias de sua jornada, quais sejam: família, saúde,
amigos, vida espiritual, trabalho.
Sentimento de pertencimento: como assim?
Estudos
revelaram que os seres humanos são primariamente criaturas que procuram
significado e valor (auto atualização). “Precisamos da sensação de que estamos
fazendo algo que vale a pena e do impulso de um propósito.” (ZOHAR, MARSHALL,
2004, p. 34). O ser humano nasceu para viver em sociedade, porque não consegue
viver sozinho. Precisa sentir-se aceito, útil, valoroso; fazendo parte de algo.
Para
Abraham Maslow, psicólogo americano, o ser humano, como ser social, tem uma
necessidade de pertencer a um grupo. Acreditava que muito do comportamento do
ser humano pode ser explicado pelas suas necessidades e pelos seus desejos. Na
pirâmide das necessidades que elaborou, a necessidade de pertencer ocupa o
terceiro degrau.
Para
Weber (1999, apud SANTOS, 2011, p.
31), “a profissão seria o meio de o indivíduo capacitado se inserir no mercado
para satisfazer suas necessidades materiais ou imateriais”, como por exemplo,
posições sociais, honras, títulos, em outras palavras, poder social. O mesmo pensamento
é endossado por Larson (1977, apud
SANTOS, 2011, p. 32) que entende “a profissionalização como uma estratégia para
conquistar poder, prestígio e renda na sociedade”.
Aliado
a isso, há a competição no mercado de trabalho e o fato de que não haverá espaço
para profissionais que apenas se contentam em cumprir suas horas, fazer o seu
trabalho e ir para casa. Terão que assumir responsabilidades, trabalhar por
metas com as especificações de desempenho.
Da
mesma forma que é preciso nutrir o sentimento de pertencimento ao Cosmos para
cada um atingir seu estado de paz interior, que por sua vez é essencial, nas
palavras de D`Ambrosio (1997), para que se encontre uma paz social, entendemos
que é preciso se desenvolver o sentimento de pertencimento à profissão que se
opta ter para se inserir e atuar no mundo do trabalho.
Como então incrementar o sentimento de pertencimento ao
Secretariado, com o
desenvolvimento de competências essenciais para se ter trabalho e remuneração
sempre (= empregabilidade)?
A resposta:
pelo viés da educação.
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