Secretariado Executivo > cenário atual: busca por competência e comportamento ético (parte II)
A resposta: pelo viés da educação.
De acordo com Santos (2011, p. 38), Bourdieu
defende que a educação assume uma importância capital na entrada para o campo
profissional. Afirma que “a formação,
além de capacitar tecnicamente o futuro profissional, realiza o papel de
adequação do olhar, da visão de mundo do futuro profissional às expectativas do
grupo profissional.”
Nessa direção, acreditamos que a educação é e será o
caminho para se (re)construir uma consciência coletiva na criação do sentimento
de pertencimento ao Secretariado, bem como desenvolver as competências
essenciais para se ter empregabilidade. Nada se constrói, ou se reconstrói sem
educação. Só avançaremos no Secretariado, e com o Secretariado, pelo viés da
educação. A educação é a chave para abrir caminho para a excelência pessoal,
social e profissional, e nos permite buscar sermos melhor hoje do que ontem.
Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a
vida com a educação.
De forma resumida e
bem objetiva, fato é que precisamos manter o coração de estudante
pulsando durante toda a vida.
Como diz Freire (1997,
p. 28), “a educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados.
Estamos todos nos educando.” Afinal, o ser humano é um ser inacabado, está
sempre em construção.
Defendemos um processo de educação que proporcione uma
leitura de mundo, o desenvolvimento da capacidade da pessoa de se engajar em
projetos e ações, consciente de sua responsabilidade social e ética; consciente
da necessidade de aprender a aprender e saber pensar, para poder agir e ajudar
a transformar o contexto no qual está inserida. (WAMSER, 2000). Defendemos uma
educação que dê conta de (re)construir uma consciência ampliada desse
pertencimento tanto ao Todo Cósmico como ao Secretariado.
Como docentes, precisamos levar os estudantes a aprender
a aprender e desenvolver a responsabilidade pela construção do seu
conhecimento. Para Moraes (1997), o processo de construção do conhecimento
acontece através da aprendizagem, que não significa memorização pura e simples,
mas significa dizer que, se o sujeito efetivamente aprendeu, será capaz de
construir o conhecimento tempos depois. O sujeito constrói o conhecimento,
fazendo uso do raciocínio, da percepção do mundo externo pelos sentidos e
sensações, dos sentimentos, das emoções, da razão, da intuição. Constrói o
conhecimento a partir de sua interação com a realidade.
Fato é que a educação formal ainda está apoiada numa visão tradicionalista que reforça a fragmentação do conhecimento, continua centrada no professor e na transmissão do conteúdo. Wamser (2000) ressalta que os conteúdos trabalhados em sala de aula raramente são extraídos do cotidiano dos estudantes, de seus problemas práticos. São, algumas vezes, tão distantes que os estudantes questionam o porquê deste ou daquele assunto.
Fato é que a educação formal ainda está apoiada numa visão tradicionalista que reforça a fragmentação do conhecimento, continua centrada no professor e na transmissão do conteúdo. Wamser (2000) ressalta que os conteúdos trabalhados em sala de aula raramente são extraídos do cotidiano dos estudantes, de seus problemas práticos. São, algumas vezes, tão distantes que os estudantes questionam o porquê deste ou daquele assunto.
Alguns professores, infelizmente, estão voltados
unicamente para sua disciplina. São raros os que têm visão geral das
disciplinas que compõem a estrutura curricular do curso de Secretariado.
Assumem as aulas, mas não se comprometem com o curso. Não têm uma participação
efetiva na construção do conhecimento e desenvolvimento de competências dos
estudantes. Sabem pouco de seu cotidiano.
Por outro lado, há também professores empenhados em
enfocar conteúdos cada vez mais próximos da realidade dos estudantes, usando a
pesquisa como atitude cotidiana, evitando o mero repasse copiado de
informações. Desafiam os estudantes através de reflexões, enquetes,
situações-problemas e seminários, a não se contentarem em reproduzir
determinado conhecimento acumulado, mas sim reelaborá-lo depois de confrontá-lo
com suas próprias experiências. Enfim, propiciam condições para o estudante
ler, questionar, investigar, refletir, analisar e emitir seu ponto de vista.
(WAMSER, 2000)
Moraes (1997) é defensora de uma educação global que leva
o estudante a trabalhar em harmonia e compreensão, a desenvolver padrões de
comportamento como cooperação, criatividade, responsabilidade, respeito aos
direitos humanos. Consciente de fraternidade humana e a percepção de que não
estamos sós e de que não podemos crescer isolados. Podemos dizer que precisamos
de um processo de educação que promova a expansão do capital espiritual com
cujo potencial todo ser humano nasce, e que se reflete em valores, princípios e
propósitos que compartilhamos.
Nas palavras de Zohar e Marshall (2004, p. 15),
inteligência espiritual “é aquela por meio da qual acessamos nossos valores
mais profundos, que nos faz usá-los nos processos mentais, nas decisões que
tomamos e nas realizações que valem a pena.” A inteligência espiritual é a
inteligência moral com a qual exercitamos a bondade, a verdade, a beleza e a
compaixão.
Torna-se necessário, contudo, aprender a
olhar sob uma perspectiva mais global, holística, integral, onde o “todo seria
mais do que a soma das partes”, de acordo com Edgar Morin, lembrado por Moraes
(1997, p. 72). E ao mesmo tempo “o todo está também em cada parte”, no que a
autora destaca que “um indivíduo não está somente dentro da sociedade, mas a
sociedade enquanto todo está também dentro do indivíduo (através de seus
hábitos culturais, das influências em suas estruturas mentais etc)”.
Essa visão, para Moraes (1997, p. 73), “nos
leva a compreender o mundo físico como uma rede de relações, de conexões, e não
mais como uma entidade fragmentada, uma coleção de coisas separadas”. Vai
exigir de cada um de nós um grande esforço, diariamente, para nos afastarmos
sempre mais de uma visão de mundo cartesiana, mecânica, que nos separa de
nossos relacionamentos, não reconhece a importância do contexto no qual estamos
inseridos.
De forma mais objetiva, no sentido de
desenvolver maior sentimento de pertencimento e competências para o exercício
profissional, a educação pode colaborar ajudando o profissional a, primeiro,
compreender a si mesmo (autoconhecimento), para saber quem é, qual o seu mais
alto potencial, quais os seus talentos, as suas qualidades e os defeitos que
possui (MORAES, 1997). Segundo, pode ajudá-lo a desenvolver uma autoconsciência
crescente do que é importante na vida e na profissão, de que a sua
responsabilidade é bem mais ampla do que ter o Secretariado apenas enquanto
profissão. A contribuição deve ser no sentido de possibilitar a compreensão das
dimensões que a profissão abarca, no que ela se constitui para a sociedade
enquanto profissão, e no que ele representa para a sociedade como pertencente
ao grupo profissional. Zohar e Marshall (2004) enfatizam que o ser humano tem a
obrigação de assumir alguma responsabilidade pela sociedade. Parafraseando,
podemos dizer que um profissional tem a obrigação de assumir alguma
responsabilidade pela profissão que decidiu ter.
Em terceiro ponto, a educação pode ajudar a
construir uma postura profissional pautada em princípios e valores éticos,
traduzidos em credibilidade, envolvimento, comprometimento e respeito com a
coletividade em forma de liderança.
A sustentabilidade do Secretariado como profissão será
garantida com o comprometimento de todos que pertencem ao grupo profissional, e
à medida que aumentar o grau de pertencimento de cada um deles.
De forma resumida, podemos dizer que
demonstrar sentimento de pertencimento à profissão significa:
Ø comprometimento e orgulho de exercê-la.
Ø mostrar, com exemplos, que vale a pena optar
pelo Secretariado.
Ø valorizar a história de vida e levá-la em
consideração na construção da carreira.
Ø ser gestor do próprio conhecimento e
construir um plano de carreira audacioso que contemple o desenvolvimento
pessoal e profissional.
Ø engajar-se em grupos de estudo, de pesquisa e
de intercâmbio de experiências para aprender novas metodologias, compartilhar
experiências e conhecimentos.
Ø criar, ampliar e aprimorar as condições de
assessoramento por intermédio da formação continuada para manter a
empregabilidade, agregar valor e responsabilidades ao cargo.
Ø construir uma imagem de credibilidade pela
convivência harmoniosa com as pessoas nos diversos ambientes.
Ø incentivar jovens a optarem pela profissão,
enfatizando, entretanto, o quão importante é investir na formação acadêmica e
profissional para atuar na área.
Ø posicionar-se (jamais omitir-se) em
discussões que porventura estejam se referindo à profissão como uma atividade
de menor importância, depreciando sua imagem. Aproveitar a oportunidade para
esclarecer o que é ser profissional do secretariado na atualidade.
Ø tornar-se um “líder a serviço”, ou seja, um
líder disposto “a servir à comunidade, ao planeta, à humanidade, aos futuros, à
própria vida”. (ZOHAR, MARSHALL, 2004, p. 37). Um líder que, ao lado das
lideranças corporativas, possa atuar por intermédio de suas ideias e ações para
contribuir na transformação do mundo dos negócios em um sistema mais humano e
plenamente sustentável.
Certamente, essa postura de pertencimento
irá, também, exigir das Instituições de Ensino Superior um sentimento de
comprometimento com a formação de Secretários competentes pessoal e
profissionalmente e capazes de viver e conviver com mudanças organizacionais,
administrativas, tecnológicas e ambientais, e que, acima de tudo, se
compreendam e sejam acessíveis, também, à compreensão das pessoas e das coisas.
(WAMSER, 2000).
Entendemos que, mesmo diante do atual cenário
econômico-político conturbado que estamos vivenciando no Brasil, empenhar-se na
construção de competências que sejam pautadas em princípios e valores éticos é
o caminho mais seguro para se ter empregabilidade e felicidade no que se faz.
Costumamos por vezes pensar, ou até
verbalizar, que quem deveria participar dessa reflexão não está aqui. Verdade!
Contudo, quero acreditar que é nossa missão, é a missão de quem está presente
nesse Congresso, é a missão de quem tem sentimento de pertencimento à
profissão, criar a sinergia com os que não puderam estar aqui, ou não quiseram
estar aqui, ou não tem consciência de sua ausência de pertencimento por falta
de conhecimento ou informação.
Fazer networking profissional é isso:
exercitar o sentimento de pertencimento à profissão para fortalecê-la, para
unificar ações, clarificar conceitos, (re)escrever o que precisa ser revisto
frente às inovações técnicas e
tecnológicas.
É sair de um Congresso dessa envergadura com
as energias renovadas por saber que estamos caminhando na mesma direção dentro
do grupo profissional, que é a unicidade que o faz ser um grupo profissional
respeitado no mundo corporativo.
Autoria:
Professora Eliane Wamser
Mestra
em Educação: Ensino Superior; Consultora e instrutora de treinamento nas áreas
de: Etiqueta Empresarial e Protocolo Corporativo, Assessoramento Executivo e
Postura Profissional no Atendimento. Especialista
em desenvolvimento profissional e capacitação de profissionais do secretariado
e assessoria executiva; Professora
do curso de Secretariado Executivo Bilíngue da Universidade Regional de
Blumenau (1992-2009);Professora
do curso de pós graduação em Assessoria Executiva Empresarial, pela Universidade
Regional de Blumenau, ministrando a disciplina Tempo, Organização e Planejamento.
Membro
da equipe de coordenação do Grupo de Intercâmbio de Experiências de Secretárias
da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (Blumenau-SC);
Parecerista
da Revista Científica de Gestão e Secretariado – GeSec;
Autora
do livro A secretária que faz...
Curriculum na Plataforma Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8263111677071217
REFERÊNCIAS
D`AMBRÓSIO, U. A era da consciência. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 1997.
FARINA, B.C.; TRARBACH, D.M. Inclusão
e a formação de lugares: do pertencimento à estigmatização. (2009)
Disponível em: ttp://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/ GT/GT3/c3%20(40).pdf Acesso
em: 15 mai. 2016.
FREIRE, P. Educação e mudança. 21.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. Campinas, SP: Papirus, 1997.
MUSSAK, E. Metacompetência: uma nova visão do trabalho e da realização
pessoal. São Paulo: Editora Gente, 2003.
SANTOS, A. F. P. R. Principais abordagens
sociológicas para análise das profissões. BIB,
São Paulo, no. 71, 1º semestre de 2011, p. 25-43.
WAMSER, E. A secretária que faz. Blumenau: Nova Letra, 2010.
WAMSER, E. O
impacto das mudanças organizacionais na profissão de secretário e a
contribuição do estágio supervisionado em sua formação. 208f. 2000.
Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Regional de Blumenau, Santa
Catarina, 2000. Disponível em: http://www.abpsec.com.br/abpsec/index.php/a-pesquisa/repository/Dissertação/O-IMPACTO-DAS-MUDANÇAS-ORGANIZACIONAIS-NA-PROFISSÃO-DE-SECRETÁRIO-E-A-CONTRIBUIÇÃO-DO-ESTÁGIO-SUPERVISIONADO-EM-SUA-FORMAÇÃO/. Acesso em: 15 mai. 2016.
ZOHAR, D.; MARSHALL, I. Capital espiritual: usando as inteligências racional, emocional e
espiritual para realizar transformações pessoais e profissionais. Rio de
Janeiro: BestSeller, 2006.
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