SECRETARIADO EM FOCO: SUSTENTABILIDADE DA PROFISSÃO (parte 1)
PALESTRA
PROFERIDA NO XIII SEMISEC, em Maceió (AL), no dia 12 de agosto de 2015, pela
professora Eliane Wamser.
SECRETARIADO
EM FOCO: SUSTENTABILIDADE DA PROFISSÃO
Boa noite! É
uma alegria estar aqui com vocês! Quero agradecer de coração o convite recebido
da Federação e dos Sindicatos pela oportunidade de estar no XIII SEMISEC - Seminário
Multiprofissional Integrado de Secretariado da Região Nordeste e conversar com
vocês sobre o Secretariado e a sua sustentabilidade enquanto profissão
constituída que é.
Não tenho
como esconder de vocês que tratar de sustentabilidade sob seus aspectos
diversos e mais precisamente da sustentabilidade da profissão de Secretário é
altamente instigador e desafiador. Mexeu com minha zona de conforto e deixou-me
por inúmeras vezes muito introspectiva.
Inicio minha
palestra apresentando-lhes o lugar que ajudou a moldar a pessoa que sou hoje. Apresentar
a vocês minha leitura de mundo. Em que está amparada? Na minha história de
vida. Sim, torna-se importante clarificar este lugar porque certamente temos
aqui no auditório pessoas que veem esta temática sob outra ótica, outro
referencial, outro ângulo.
Nasci em
1960. Eu sou a quarta geração – do lado materno - de uma família alemã
colonizadora de Blumenau, em Santa Catarina, vinda para a região em 1847. Os
meus avós enfrentaram alguns resquícios da II Guerra Mundial, quando não se
tinha o excedente. Apenas o suficiente. Aprendia-se a guardar para amanhã. Isso
fez com a minha avó fosse muito cuidadosa ao se desfazer de algo. Por que jogar
fora se ainda pode ser útil?
Aprendi a
plantar flores, rosas cor de rosa eram minhas favoritas. Os adultos trabalhavam
demais durante a semana. Nos finais de semana, o lazer contribuiu com a fundação
de clubes de Caça e Tiro e de bolão.
Essas
experiências vividas ajudaram-me a definir meu jeito de ser e fazer. Ou seja, de
que sempre terei que fazer o meu melhor para honrar essa minha linhagem materna
de respeitarmos a terra.
A partir
deste meu contexto, trouxe comigo a máxima do “desperdício zero”, com a qual
convivi fortemente no mundo profissional. Era fazer mais com menos recursos,
para viabilizar financeiramente a empresa. Sempre trabalhei sob a pressão da
redução de custos, sem esbanjamento, muito controle de gastos.
Além da
máxima do desperdício zero, vivenciei outra: “Manda quem pode, obedece quem tem
juízo.” Estou aqui falando dos anos 70, por volta de 1976, eu com meus 15 anos
de idade, aprendendo a ser alguém no mercado de trabalho.
Lembro-me
que as crises no cenário econômico e produtivo brasileiro eram constantes. A
exemplo do que acontece atualmente. Isso deixa os dirigentes com os nervos a
flor da pele, exigem cada vez mais produtividade e desempenho máximos. Requer
de nós profissionais paciência, tolerância; contrapor-se às diferenças de
opinião e ações com respeito, conhecimento e discrição. Vai sobreviver o
profissional que tiver pique, que tiver um diferencial: fazer e dar sempre o
seu “melhor”. Não o “possível” e sim o
melhor.
Outro
momento marcante foi durante meu Mestrado, nos anos 90, quando tive a alegria
imensa de ter como Professor, o Doutor Ubiratan D´Ambrósio, educador matemático
brasileiro e internacional. Um defensor de se promover uma cultura planetária,
uma educação multicultural, uma educação para a paz, capaz de eliminar as
diferenças. Saíamos de suas aulas “tontos” diante de sua fala firme e ao mesmo
tempo, assustadora, a respeito da situação planetária e do futuro do cosmos. Dizia-nos
isso com muita humildade e respeito pela forma e linha de pensamento teórico de
cada um de nós. Não tínhamos como contrapor suas afirmativas. Levei seus
ensinamentos para minha vida pessoal e acadêmica.
Em
particular, ficou muito evidente que cada um de nós é o que é, dentro de
determinado contexto. Eu sou o que eram e são os meus relacionamentos. Você é o
que foram seus relacionamentos com seu passado, o que são com seu presente, e o
que serão com seu futuro. Falo aqui de nossos relacionamentos com nossos
semelhantes e com a própria natureza. Falo dessa interdependência entre o
ambiente e o nosso ser, entre nosso pensamento, que incorporamos por meio da
percepção captada pelos órgãos dos sentidos. Essa interdependência por si só já
implica/demanda um imenso respeito que devemos ter diante das diferenças, da
diversidade entre os seres, das diferenças cultural e social.
O fato de
sermos todos interdependentes e inseparáveis de um Todo Cósmico, onde ações nossas
aqui em Maceió, desmatamentos no Pará, seca no Sudeste, enchentes no Sul,
degelo no Polo Ártico, tudo impacta na natureza, em nossa realidade e na
realidade do próximo, onde quer que ele esteja.
Com Prof.
Ubiratan, aprendi a olhar sob uma perspectiva mais global, holística, integral,
quântica. Tive que fazer, e ainda faço diariamente, um grande esforço para me
afastar sempre mais de uma visão de mundo cartesiana, mecânica, que separa-nos
de nossos relacionamentos, não reconhece a importância do contexto no qual
estamos inseridos. Sem esse sentimento de pertencimento
fica difícil convencermos alguém quando falamos de sustentabilidade.
Significa
que minha fala em defesa da sustentabilidade do Secretariado sempre foi e será
um produto de minha consciência de trabalhadora, de secretária executiva
trilíngue, de professora universitária. Tudo em mim está revestido de meu
caráter histórico; da decisão que tomei em 1976 de que seria uma Secretária
Executiva Trílingue bem sucedida. De alguém que acredita na profissão! SUCESSO, para mim, é ter o reconhecimento de um
trabalho bem feito, fruto da competência e de habilidades.
Assim fui
para o mercado de trabalho, impulsionado por mais uma máxima, que também me
acompanha desde a infância: “trabalhar para sustentar a família”.
Acredito que
vocês – assim como eu - se depararam pela
primeira vez com a palavra sustentar dessa
forma em suas famílias. Para se sustentar e para sustentar uma família era
preciso trabalhar, ter uma ocupação, ter uma profissão.
Para
lembrar: a palavra sustentável tem
origem no latim “sustentare”, que significa sustentar,
apoiar, conservar. Palavra que depois foi estendida da família >
empresa/profissão > governos > mundo > planeta.
Mais
recentemente, fui buscar em Lester Brown, um referencial para aprender sobre sustentabilidade. Lester Brown é
ambientalista e fundador do World Watch Institute e presidente do Earth Policy
Institute, e que escreveu em 2009 o livro “Plano B 4.0: mobilização para salvar
a civilização”.
A ideia de sustentabilidade começou a ser utilizada
por Lester Brown, na década de 80. Brown definiu comunidade sustentável como aquela que é capaz de satisfazer às
próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras.
Uma
definição que vai na mesma direção do Relatório de Brundtland (1987), que
aponta que o uso sustentável dos recursos naturais deve "suprir as
necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações
futuras de suprir as suas".
Para o
Portal da Sustentabilidade, sustentabilidade é um conceito sistêmico,
relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e
ambientais da sociedade humana. Abrange desde a vizinhança local até o planeta
inteiro.
Há correntes
que tratam da sustentabilidade sob três pilares, entendendo-a como a busca pela harmonia
entre: equilíbrio ambiental, justiça social e viabilidade econômica. Isso
significa que envolve todos os âmbitos da vida: política, social, econômica,
cultural e ambiental.
Brown chama atenção para: os desertos
em expansão, o aumento
do nível dos mares/oceanos e a exaustão dos aquíferos. Em se tratando das
mudanças climáticas, aponta:
No
século XX – nível dos oceanos subiu 18cm; no século XXI – o nível dos oceanos
poderá se elevar de 90cm a 1,8m. Ou seja, trata-se da expansão dos oceanos e do
encolhimento da terra. Isso também gerará o deslocamento potencial em massa de
populações.
59
milhões de hectares serão afetados no Brasil (a maior parte no Nordeste), em
função da desertificação (expansão dos desertos).
A
temperatura da terra aumentou 0.6 grau Celsius desde 1970. Até o final do séc.
XXI deverá elevar-se em até 6 graus Celsius.
Ter-se-á
o encolhimento das geleiras = derretimento das camadas de gelo. Quer dizer: as
geleiras derretem e as cidades costeiras perdem terreno. E as colheitas
diminuem porque a irrigação usa água do degelo. Assim como o uso doméstico da
água depende de gelo derretido.
Lester Brown defende que a sociedade tem um Plano B para
sobreviver e reestruturar a economia global. E a convoca para trabalhar em prol
de quatro metas interdependentes, quais sejam: estabilizar o clima, controlar a
população, eliminar a pobreza e restaurar os suportes da natureza, como a água,
o solo e o ar. O que implica combater, entre
outros problemas mundiais, o aquecimento global, a degradação do solo, a ameaça
à mobilidade urbana e o desmatamento/reflorestamento.
O que precisamos fazer? Segundo Brown, precisamos de um
jeito diferente de pensar, uma nova mentalidade. Precisamos construir uma nova
economia, que seja: alimentada por fontes de energia renováveis; um sistema
diversificado de transporte; um sistema capaz de reutilizar e reciclar tudo.
Nossos
países e empresas precisam abraçar a transição para uma economia verde. Porque
é fato que o modelo econômico ocidental baseado no consumo de combustíveis
fósseis, centrado no automóvel e em bens descartáveis, não durará muito.
Para
estabilizar o clima, há necessidade de se baixar as emissões de dióxido de
carbono em 80% até 2020, para minimizar o futuro do aumento da temperatura.
Temos tempo? Brown acredita que a disputa está
entre a velocidade dos políticos versus a
velocidade da natureza.
No Brasil,
seremos capazes de acabar com o desmatamento da Amazônia antes que a região
seque e se transforme em uma área desértica?
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