A caminhada de uma secretária "analista-simbólica"
Por intermédio deste texto que escrevi em 2007, tenho a
pretensão de compartilhar com você, estudante ou profissional de secretariado,
algumas experiências pessoais que tive a felicidade de vivenciar na minha
trajetória profissional em busca de um espaço singular no mundo corporativo como
secretária executiva “analista simbólica”.
Fiz
esta reflexão baseada em minha história de vida, amparando-me, porém, na literatura
que trata da função e profissão de secretário, de determinadas mudanças
organizacionais, administrativas e tecnológicas que afetaram o
meu “fazer” profissional ao longo dos anos, além de aspectos da formação
continuada.
Cada
vez que fazia o exercício de relatar as experiências pessoais e profissionais
vivenciadas para meus alunos de Secretariado Executivo, ficava a certeza da
importância e necessidade da formação continuada para o profissional do
secretariado que almeja (re)construir-se num contexto em que flexibilidade,
adaptabilidade e complexidade são palavras-chaves para se entender e se adaptar
às aceleradas e constantes mudanças organizacionais, administrativas e
tecnológicas. Em particular para quem, como eu, passou de camareira para
auxiliar de escritório; de auxiliar de escritório para secretária; de
secretária para secretária executiva trilíngue; de secretária executiva
trilíngue para professora universitária. Tenho certeza que muitas de vocês
tiveram uma trajetória semelhante. Parabéns para nós.
Vivências e convivências: o retrato de uma realidade
A
atividade profissional de secretariado, que remonta a tempo imemoriais,
desenvolvendo-se, no decorrer da história, ao lado de atividades executivas,
como auxiliar de serviços e de escritório e com apoio ao processo de decisão,
no Brasil, teria começado por volta da década de 20, em função de um
substancial aumento do emprego da mão-de-obra feminina nas empresas paulistas,
cariocas e em menor escala, no ambiente belo-horizontino. Muitos escritórios e
executivos surgiram com o crescimento das atividades de comercialização
cafeeira e a implantação da indústria têxtil.
Natalense (1998) lembra que, até a década de
70, essas profissionais eram autodidatas, com poucas exercendo a função com
escolaridade limitada ao nível médio. Não existiam cursos de formação de
secretários. No decorrer dos anos 70, no entanto, começaram a ser ministrados,
em nível de segundo grau, com base na legislação de ensino que criara os cursos
profissionalizantes. Em nível superior, a maioria dos cursos de secretariado
executivo começou a surgir com mais força com a regulamentação da profissão de
secretário, pela Lei 7.377, em 30 de setembro de 1985. Ainda são muitas os profissionais
que exercem a profissão, porém, sem direito ao registro por não terem uma
formação em nível médio ou superior na área.
Falar
da formação do profissional do secretariado, neste momento, não é tarefa
difícil, já que, praticamente, toda a minha vida esteve e está relacionada à
atividade secretarial, quer seja como uma menina de 7 anos que brincava de
trabalhar num escritório, quer seja como secretária executiva trilíngue de uma
renomada empresa têxtil da região de Blumenau, quer seja como professora no
curso de Secretariado Executivo Bilíngue, da Universidade Regional de
Blumenau.
De menina a colegial na escola pública
O
começo: em 13 de julho de 1960. E lá se vão trinta e nove anos desde o momento
em que tive a felicidade de frequentar o primeiro ano do primário, em 1968.
Felicidade até certo ponto, pois sendo de descendência germânica, só sabia
falar em alemão. Como
entender a professora que falava em português? Esta fase foi superada com certa
facilidade já que minha mãe fazia o papel de professora em casa, retomando
todas as atividades feitas em sala, o que acelerou meu processo de
alfabetização.
Apesar
dessa dupla jornada de aula, tinha tempo para brincar com meu irmão que, então,
tinha 4 anos. As brincadeiras eram diversificadas. Quando não brincava com ele,
procurava brincar de trabalhar num escritório, atendendo pessoas, organizando
documentos, ou de dar aula para meus alunos invisíveis. Uma das paredes do
velho rancho servia de quadro negro e pedaços de carvão substituíam o giz. De
vez em quando, alguém presenteava-me com um giz branco, o que para mim era
artigo de luxo. Meu pai trabalhava de pedreiro numa construtora e seu salário
era praticamente todo destinado para a alimentação da família, sem sobras para
compra de nada que fosse considerado supérfluo.
Estudei
os oito anos que compõem o atual ensino fundamental numa mesma escola pública,
a Escola Básica Municipal Alberto Stein. Ao completar a 8a. série, isso
em dezembro de 1975, terminava o “faz-de-conta” do trabalho num escritório e o
dar aula. Era hora de parar de sonhar acordado e começar a navegar pelos mares
comandados pelo mundo do trabalho. Crise já existia na época e encontrar um
emprego não era nada fácil. Mas precisava trabalhar para dar continuidade aos
meus estudos. Precisava ter algum vínculo empregatício para estudar à noite.
Caso contrário, não era possível matricular-me no ensino médio, no Conjunto
Educacional Pedro II.
Mas
onde trabalhar? Com muito orgulho, fiz curso de datilografia e de auxiliar de
escritório, no Senac. Certo dia, tomei a liberdade de conversar com uma das
professoras da 8a. série e candidatei-me para trabalhar de camareira
no hotel que ela inauguraria no mês seguinte, ou seja, em janeiro de 1976. O
seu “sim” foi o meu primeiro passo para minha carreira profissional.
De
camareira passei à telefonista do hotel em questão de dias. Porém, de antemão
sabia que isso era apenas uma etapa. Lia jornal diariamente, dedicando atenção
especial à página de classificados. Certo dia de março deparei-me com um
anúncio, procurando uma auxiliar de escritório, para um escritório de
representações. Após ser entrevistada pelo gerente e fazer o teste de
datilografia, fui contratada. E o salário? Era simplesmente igual ao que
recebia como camareira, um salário mínimo de menor. Naquele momento,
entretanto, o que interessava era adquirir experiência e algum dia trabalhar
numa grande empresa têxtil, como secretária da alta administração.
Nesse
escritório, exerci a função de recepcionista-telefonista-datilógrafa, por oito
meses. A maioria do meu tempo de trabalho era utilizado para a datilografia ou
reprodução de documentos, muitos dos quais em quatro, cinco, seis vias. Era
preciso usar papel de carbono, ter muito cuidado e paciência, porque qualquer
erro na datilografia anulava tudo o que já tinha sido datilografado. Não
existia o corretivo, somente o lápis-borracha.
O
desempenho profissional era medido pela eficiência e agilidade com a máquina de
escrever. Um dos poucos cursos de formação profissional para secretárias que
existia era de datilografia. Era preciso aprender fazendo no cotidiano do
escritório.
Para
a reprodução de circulares, por exemplo, que demandavam um número maior de
cópias, e que não eram possíveis com papel carbono, utilizava o mimeógrafo, que
permitia a reprodução de dezenas de cópias com a mesma matriz, que era o stencil.
Foi
nesse período que aprendi a usar o telex, um dos principais equipamentos que se
tinha no escritório. Permitia a comunicação instantânea, por escrito. Seu
recebimento acontecia no mesmo momento em que a mensagem era expedida. Sinalizou
o fim da espera de semanas e semanas para a obtenção da resposta de uma carta
enviada, pelo correio, a um cliente ou fornecedor. Houve um ganho considerável
de tempo, agilizando cada vez mais a comunicação e a concretização de negócios.
A
secretária do gerente do escritório era competente no exercício de suas
funções. Ela trabalhava para a empresa e não só para as necessidades do
executivo. Tinha uma atuação dinâmica e, assim, ganhava respeito profissional
pelos fornecedores e representantes. Considerava-a privilegiada pelo fato de
ter uma máquina de escrever elétrica à sua disposição, o que lhe possibilitava
realizar um trabalho muito mais apresentável.
Centenas
sempre foram os apelidos esteriotipados e as nomenclaturas que cercam os
profissionais do secretariado. Um de inúmeros aprendi com os funcionários do
escritório, que costumavam chamar a secretária de “o cão de guarda da ante-sala do poder”. Acredito que chamavam-na
assim pela sua postura diante ........, pois só se podia entrara na sala do chefe
com sua autorização após conhecer o assunto a ser tratado. Se era um assunto
que ela acreditava poder resolver, dificultava o acesso da pessoa à chefia.
O passo para.....
Em
novembro de 1975, comecei a trabalhar no escritório de uma indústria produtora
de fios de algodão. Foi quando tive o primeiro contato com a máquina de
escrever elétrica. A novidade foi um impacto, porque agora eu poderia realizar
um trabalho muito mais apresentável já que estava equipada com fita corretiva.
Datilografar uma ou outra letra erroneamente não era mais motivo para rasgar a
folha e começar tudo de novo, sem, contudo, prejudicar a estética e a limpeza
do trabalho. O surgimento da reprografia xerox, também, teve uma contribuição
significativa nas atividades no dia a dia.
Nessa
época, o trabalho associativo da classe, que surgiu para lutar em prol da
regulamentação da profissão de secretário, tentou criar uma nova mentalidade
nas profissionais, incentivando-as a se aprimorarem para serem mais valorizadas
pela sociedade e pelo mercado de trabalho. A Lei 6.556, de 05 de setembro de
1978, passou a exigir o 2o. grau completo, sendo desejável e
recomendável o curso de Técnico em Secretariado, como o mínimo de instrução
para se contratar um profissional de secretariado. Gradativamente, os
empregadores começaram a contratar profissionais com conhecimento e domínio de
todas as técnicas e serviços sob sua responsabilidade e que buscavam
aprimoramento constante.
Último ano do 2o. grau.
Inscrever-me ou não no vestibular de verão? Em que curso? Letras
Português-Inglês? Eram inúmeras as interrogações para quem planejava ser uma
secretária executiva trilíngue (Inglês, Alemão e Português) e via no curso de
Letras apenas a possibilidade de estudar uma língua estrangeira - inglês. E a
língua alemã? Onde e quando estudá-la? Com que dinheiro, se o salário na
ocasião dava para pagar unicamente a mensalidade na universidade?
Era um momento de decisão importante.
As pessoas ao meu redor pressionando por uma continuidade da educação formal e
minha escolha se direcionando para a educação não-formal. Tem-se a compreensão
da educação não-formal como uma modalidade de educação intencional, metódica,
com objetivos definidos, porém não circunscrita à escolaridade convencional.
Inscrevi-me no vestibular, mas não fiz
as provas. Decidi estudar inglês e alemão, no Centro Cultural Brasil-Estados
Unidos e Instituto Cultural Brasil-Alemanha, respectivamente, a partir de março
de 1979. Tinha aula todos os dias.
Trabalhando há seis anos na indústria
de fios de algodão, sem uma real perspectiva de atuar como secretária
executiva, e já tendo um conhecimento razoável, tanto para redação como
conversação em inglês e alemão, candidatei-me à vaga de secretária do
presidente de uma conceituada trading
company. Fui selecionada graças aos
meus conhecimentos nas duas línguas estrangeiras.
Em maio de 1982, começou a se escrever
um dos momentos mágicos de minha trajetória profissional como secretária
executiva trilíngue. Foi, também, na década de 80, que a realidade daquela secretária
cúmplice, passiva, que esperava pacientemente pela delegação de tarefas e
reconhecimento do chefe, estava deixando de fazer parte do cotidiano das
organizações. Passou a assumir novos papéis na sua rotina de trabalho, com
ampliação de suas tarefas.
No meu caso específico, passei a
dirigir minha rotina e supervisionar trabalhos de equipes de apoio: office-boy, teletipistas, telefonistas,
encarregadas da limpeza do escritório. Tornou-se indispensável ter conhecimento
e visão da organização, de seus objetivos e metas. É como diz Farias (1986, p.
15), o profissional de secretariado deixou de ser um símbolo de status para o executivo, para ser peça
vital do processo administrativo.
Nesta condição, passei a responder
pelas tarefas de maior responsabilidade, ou seja, de atuar como assessora,
planejando, organizando e controlando tempo, rotinas e comunicações. Para
tanto, foi preciso dominar todas as técnicas secretariais e ter curso de
formação para bem desempenhar as funções. Tornou-se, cada vez mais, necessária
a participação em cursos de aperfeiçoamento e desenvolvimento profissional. Era
preciso estar atualizada, informada. Algumas organizações reconheceram a
necessidade de desenvolvimento e investiram em treinamento e reciclagem dos
profissionais. Fiz vários cursos em São Paulo e Curitiba, que me deram a noção de
como desempenhar com eficiência e eficácia meu papel.
Em 30 de setembro de 1985, a Lei 7.377
regulamenta a profissão de secretário e define os critérios para o seu
exercício. Com a institucionalização da profissão, as associações da categoria
passaram a exercer controle na área, a ponto de apoiarem e auxiliarem
diretamente na implantação de cursos, sobretudo em nível superior. Na
Universidade Regional de Blumenau, a primeira turma iniciou seus estudos no
segundo semestre de 1990. Foi o primeiro implantado em Santa Catarina. Na
criação do curso prevaleceram duas características básicas: teoria versus prática, com o consenso de
a profissão caracterizar-se pelo “saber” e o “fazer” (normalmente “como
fazer”).
Nessa época, simultaneamente, muitas
organizações iniciaram um processo de reestruturação em virtude da dinâmica do
mercado de trabalho e da economia mundial. Administradores e empresários
passaram a se preocupar com o crescente aumento de mão-de-obra para a execução
de atividades rotineiras nos escritórios. A ideia de automação dos escritórios
não era mais ficção em alguns escritórios brasileiros, apesar de restrita às
grandes organizações, devido ao custo de implantação. Medeiros e Hernandes
(1995, p. 101) afirmam que a “automação surgiu da necessidade de eliminar papeis,
fichas, acabar com tarefas repetitivas, tendo em vista principalmente
proporcionar informações exatas, seguras e liberar o homem para atividades mais
criativas”.
Para
os secretários, o uso do computador eliminou a perda de tempo em tarefas
repetitivas como a datilografia de documentos e circulares endereçados a
inúmeros clientes, por exemplo. Possibilitou o aumento de eficiência, não de
uma hora para outra, mas conquistado por etapas. Era preciso superar a fase de
adaptação que todas as organizações enfrentaram com a informatização dos
processos administrativos. Era preciso superar a fase da “secretária-digitadora”
e a visão de muitas chefias de que escritório informatizado era sinônimo de
redução imediata de pessoas.
A
eliminação dos trabalhos repetitivos e a necessidade de se obter e tratar as
informações, exigiram-nos uma maior interação com as informações armazenadas em
computadores, por meio de modernos sistemas de gerenciamento e recuperação de
dados. Para isso, foram vários os treinamentos recebidos. Foram cursos in company ou abertos organizados por
empresas especializadas.
No
meu dia-a-dia no escritório, a utilização do computador teve um impacto nas
responsabilidades e no trabalho que realizava, proporcionando-me mais tempo
para desempenhar meu papel de assessora e de administradora de informações.
A
década de 90 foi marcada por uma série de fatores que influíram sobremaneira na
reestruturação de organizações nacionais e internacionais. Proporcionou o
melhor momento para a conquista de espaço do profissional de secretariado,
abrindo o caminho para a profissão, como resultado da dinâmica do mercado e das
profundas mudanças organizacionais, administrativas e tecnológicas,
principalmente, causadas pela Era da Informática e da Qualidade. Natalense
(1998) corrobora esta opinião.
Nos
últimos anos, as organizações foram assoladas por uma onda de reengenharia, downsizing, programas de competitividade
e produtividade, de qualidade total e valorização do cliente. Muitas
organizações, estruturadas em base à Revolução Industrial e às ideias clássicas
de administração, que pregam rigidez hierárquica, centralização de poder e
controle absoluto, estão se reestruturando e se adequando à nova realidade do
mercado. Um mercado cada vez mais competitivo e veloz decorrente da
globalização da economia, da revolução científica e tecnológica; esta liderada
pela tecnologia de informações e de comunicações, que invadiu os escritórios,
passando a fazer parte do cotidiano das organizações que, para sobreviverem,
tiveram que ter uma integração total de informações.
A
chegada ao mercado das secretárias eletrônicas, do computador e, mais
recentemente, da internet e do e-mail, provocou mudanças organizacionais e
administrativas, tornando as organizações mais dinâmicas e os executivos mais
independentes. E nós, secretárias, tivemos que evoluir, assim como a
tecnologia, para ganhar novas funções e conquistar cada vez mais espaço.
Havia
a exigência de educação continuada para possibilitar nossa atualização e
adaptação às inovações tecnológicas, já que, conforme Knechtel (1995, p. 112),
“a divulgação das novas tecnologias, em geral, é acompanhada de problemas como
insegurança, temor, carência de orientação, crises de identidade [...].”
Costumeiramente,
as novidades em tecnologias do escritório, antes de chegarem às mãos de outros
empregados da organização, chegavam à secretária, para serem testados. Só
depois eram instaladas e disponibilizadas em outros departamentos. Isso não
acontecia porque tínhamos o conhecimento de como manuseá-las. Significava,
porém, que tínhamos que ter a capacidade para aprender a lidar com as
novidades, fazendo cursos e depois, dependendo do caso, recomendá-las ou não
para outras áreas.
As
opções de carreira dos profissionais que atuavam nos escritórios, no início da
década de 90, começaram a se expandir rapidamente em função da automação dos
serviços administrativos. As inovações tecnológicas geraram mudanças na
operacionalização de inúmeras atividades administrativas, bem como do
gerenciamento da informação, possibilitando novas oportunidades de
desenvolvimento profissional. Como consequência, passou-se a exigir do
trabalhador cada vez mais profissionalismo.
Dentro
desta visão, segundo Jaderstrom et al. (1997), o profissional de secretariado
passou a se tornar um “paraprofissional”, que assessora a direção a processar e
organizar informações. Sim, era assim que passei a me definir nos três últimos
anos que atuei como secretária executiva trilíngue. Uma secretária executiva
com prática nas rotinas de escritório, que assumia responsabilidades sem
supervisão direta, que, de acordo com a situação, tinha autonomia para tomar
decisões sem precisar receber ordens.
A
autonomia, que aqui é entendida como “a aptidão de compreender e se situar em
relação ao meio em que se vive e a capacidade de agir sobre ele” (BARCIA, 1982,
p. 62), não foi conquistada num estralar de dedos. A conquista de autonomia
exigiu-me árduos esforços e muita responsabilidade. Exigiu-me competência. Uma
competência buscada através de um aprimoramento constante e de forma
intencional e sistemática.
Aprender
e aprender sempre foi a minha grande mola propulsora para acordar a cada dia
com mais disposição em busca de novos conhecimentos. “Aprender é internalizar
ativamente, sob a forma de hábitos, as experiências práticas com o mundo da
natureza e da vida; [...]” (LUCKESI, 1998, p. 130). Sempre assumi a
responsabilidade por minha aprendizagem. Procurei participar de cursos de acordo
com as minhas necessidades e curiosidades de crescimento pessoal e
profissional. Foram cursos feitos no exterior e em São Paulo para
aperfeiçoar a conversação e a redação na língua inglesa, participação em tantos
outros em várias localidades no Brasil, para encurtar a distância em relação as
mudanças provocadas pela tecnologia de informação e de comunicação. Sempre
procurei fazer parte do time que administrava. O meu desempenho não era somente
avaliado pela minha capacidade em lidar com papéis e objetos materiais, mas,
principalmente, pela minha habilidade em lidar com os clientes internos e
externos.
Até, então, não havia razão nenhuma para frequentar um curso
superior. O meu mundo real estava nos cursos de aperfeiçoamento e no mercado de
trabalho. Estava vivendo uma época de desenvolvimento profissional ímpar,
diariamente, exposta a uma atmosfera repleta de inovações tecnológicas, que
impregnava o ambiente de trabalho. Minha vida era minha escola, porém sem
direito a um diploma com registro no Ministério da Educação e Cultural (MEC). E
como precisava deste diploma para me lançar a um novo desafio, em agosto de
1988, iniciei o curso de Letras Português-Inglês, na Universidade Regional de
Blumenau.
O novo desafio estava direcionado para a educação formal, ou
seja, intencional em sua atitude, consciente em sua atividade, formativa em
seus propósitos, sistemática em sua realização, limitada em sua duração e
exercida por educadores profissionais. Ser professora no curso de Secretariado
Executivo Bilíngue, da Universidade Regional de Blumenau, era um passo arrojado
que fazia parte de meus objetivos. Em agosto de 1992, recém formada, comecei a
lecionar no curso a disciplina de Técnicas de Secretariado. Depois assumi a
disciplina de Cerimonial e Etiqueta e a coordenação do Estágio Supervisionado.
Minha trajetória de vida está pautada
nas competências e habilidades que procurei desenvolver desde criança, quer
brincando de trabalhar num escritório, quer dando aula para meus alunos
invisíveis.
Os profissionais do secretariado, como todos os profissionais
rumo ao século XXI, devem estar capacitados a aprender a aprender, saber pensar
estrategicamente, responder criativamente a situações novas e inusitadas, agir
pró-ativamente. Meu propósito a partir de então, foi colaborar na formação de
secretários executivos com competência pessoal, tecnológica, metodológica e
social, capazes de se manterem empregáveis, assumindo e desempenhando as novas
atribuições que lhes são delegadas. Colaborar no seu desenvolvimento pessoal e
profissional de forma intencional e sistemática.
Concluindo...
Reich
(1994, p. 162) ao abordar o trabalho das nações, identificou o surgimento de
“três amplas categorias de trabalho” nos Estados Unidos, que também estariam
tomando forma em outros países. Convencionou chamá-las de serviços rotineiros de produção, serviços pessoais e serviços simbólico
analíticos.
Os serviços
rotineiros de produção estão relacionados a tarefas repetitivas, tediosas e
intermináveis, similares às executadas na Sociedade Industrial. Com uma
diferença. Hoje, com o advento da Sociedade do Conhecimento, esses serviços são
encontrados na montagem de componentes eletrônicos e na operação de terminais
de computador, introduzindo e recuperando dados do computador. São os peões da Era
da Informática.
Os serviços
pessoais, também, estão relacionados a tarefas repetitivas e simples. Para
Reich (1994, p. 163), o que diferencia os servidores pessoais dos produtores de
rotina é que os serviços desses são executados pessoa a pessoa, porque os
servidores pessoais têm contato direto com os usuários finais de seu trabalho.
Os seus honorários são em base às horas trabalhadas e a quantidade de trabalho
executado. Normalmente, têm formação em nível secundário (segundo grau), mais
curso profissionalizante.
A terceira categoria de cargo
funcional, denominada de serviços
simbólico analíticos, inclui todas as atividades de identificação e solução
de problemas. Nesta categoria, Reich (1994, p. 165) inclui
boa parte do
trabalho executado por consultores de gerenciamento, financeiros e
tributaristas, consultores nas áreas de energia, agricultura, armamentos e
arquitetura, especialistas em informações gerenciais, em desenvolvimento
organizacional e em planejamento estratégico, headhunters corporativos e
analistas de sistemas. E ainda, executivos de propaganda e especialistas em
marketing, diretores artísticos, arquitetos, cinematografistas, [...] e, ainda,
professores universitários.
O autor define o
profissional de secretariado como executor de serviços simbólico analíticos,
classificando-o como “analista-simbólico”.
Os
analistas simbólicos, geralmente, trabalham sozinhos ou em pequenas equipes,
que podem ser de grandes organizações, solucionando e identificando problemas e
promovendo a venda de soluções por meio da manipulação de símbolos (dados,
palavras, representações orais e visuais). São formados em cursos
universitários, podendo ser pós-graduados. Reuniões, contatos telefônicos,
horas em aviões e hotéis, assessorando, fazendo apresentações, fornecendo
instruções, negociando, emitindo relatórios, projetos, desenhos, são algumas
das muitas formas com as quais dispendem longas horas, quando não estão
concentrados em frente a um computador ou estudando.
Na opinião de Reich (1994, p. 214), “a
educação formal de um analista simbólico principiante requer o refinamento de
quatro aptidões básicas: abstração, raciocínio sistêmico, experimentação e
colaboração.” No seu entender são as aptidões básicas para um analista simbólico estar
preparado a atuar em organizações na identificação e resolução de problemas e
promoção da venda de soluções para tais problemas. Um analista simbólico tem
formação universitária, mas seu aprimoramento não termina com a formatura. Está
continuamente se atualizando, enfrentando o desafio do aprender a aprender.
Da época áurea da máquina de escrever
até hoje, reino da Internet, muitas foram as mudanças que ocorreram na função
de secretária até chegar a ser uma profissão reconhecida por lei. Evoluiu,
paralelamente, a uma constante (re)construção das atividades administrativas
devido a chegada do computador e das tecnologias de informação e de
comunicação. Permitimo-nos, por analogia, dizer que ao longo deste caminho
nasceu a secretária executiva “analista-simbólica” e está se extinguindo,
parcialmente, a que faz única e exclusivamente tarefas rotineiras e ou executa
serviços pessoais.
Hoje, ao final dos anos 90, para as
organizações contratarem uma secretária executiva da categoria de “analista
simbólico”, os requisitos necessários giram em torno de:
· ter,
no mínimo, domínio de dois idiomas estrangeiros;
· conhecer
e saber usar vários programas de computador;
· saber
usar as tecnologias de informação e de comunicação disponíveis nos escritórios;
· ter
capacidade de comunicação escrita, com excelente redação em português e idioma
estrangeiro, e ortografia e gramática perfeitas;
· ter
ótima comunicação verbal;
· saber
relacionar-se com os clientes internos e externos;
· saber
preparar documentos empresariais;
· aplicar
com eficácia as técnicas secretariais e as funções gerenciais;
· ter
uma visão global da organização;
· ter
postura profissional.
São exigências mínimas que as organizações fazem quando
precisam contratar um secretário executivo. Dito de outra forma, são básicas
para quem se candidata ao cargo. As organizações ao recrutarem secretários
executivos, avaliam e classificam os candidatos de acordo com sua competência
pessoal, tecnológica, metodológica e social. Normalmente, são as organizações
que usam o critério “competências” para avaliar o desempenho de seus
empregados, vinculando-as aos aumentos de salário.
Nas
palavras de Reich (1994), o que precisamos é formar um analista simbólico com
quatro aptidões básicas: abstração, raciocínio sistêmico, experimentação e
colaboração, só não lhe ensinando a resolver um problema que lhe é apresentado,
mas sim levando-o a aprender a analisar por que o problema surge e como se
conecta com outros.
O
estudante precisa ser capacitado para viver numa sociedade que está em
permanente processo de mudança e evolução e preparado para enfrentar a
turbulência advinda da aceleração dessas mudanças de forma que saiba conviver
com as incertezas, os imprevistos e os desafios. Para Assmann (1996, p. 23), “a
educação deve preparar o alunado para a flexibilidade.” Moraes (1997, p. 227),
em outras palavras, porém na mesma direção, diz que se deve educar “para que o
indivíduo possa sobreviver a qualquer tipo de mudança, para que saiba lidar com
o imprevisto, as injustiças, o novo e o caos, que exigem um novo pensar, mais coerente,
articulado, rápido, múltiplo e exato, para que se possa estabelecer novas
relações, novas ordenações e novos significados.”
Perelló
(1998, p. 196) alerta para o fato de nossas escolas adotarem uma metodologia
que acaba favorecendo a passividade e não a tão propalada pro-atividade. “Hoje,
quando o aluno nas nossas escolas aprende a aprender é para repetir os
conhecimentos que os grupos do poder necessitam para fortalecer-se ainda mais,
no poder.” O papel da Universidade é formar criadores do saber e não
repetidores do saber. Deve direcionar para a evolução e não para a conservação
da situação. “A repetição dos conhecimentos dos outros e da cultura erudita têm
valor, porém, não basta para o crescimento pessoal e comunitário.”
O
mercado de trabalho quer um profissional do secretariado (um analista simbólico)
com a capacidade para aprender a aprender continuamente, já que a nova ordem é
a turbulência e, para enfrentá-la, requer-se flexibilidade e prontidão. Uma
formação profissional e para a vida é a chave que possibilita acompanhar e ter
êxito em meio às constantes mudanças organizacionais, administrativas e
tecnológicas.
Referências bibliográficas:
ASSMANN,
Hugo. Metáforas novas para reencantar a
educação: epistemologia e didática. Piracicaba, SP: Editora Unimep, 1996.
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reference for today’s electronic office.
New York: Random House, 1997.
KNECHTEL,
Maria do Rosário. Educação permanente: da
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MORAES,
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NATALENSE, Liana. A secretária do futuro. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 1998.
PERELLÓ, Jorge Solivellas. Pedagogia do estágio: experiências de formação profissional. Belo
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REICH, Robert B. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo do século
21. (tradução de Claudiney Fullmann). São Paulo: Educator, 1994.
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