Formação continuada: entre o ideal e o real

Em meio à turbulência de informações e inovações que atinge a humanidade todos os dias, as pessoas necessitam saber de onde vem e para onde vão. Devem ter consciência de si mesmas e dos outros que estão em seu entorno. Precisam ser capacitadas para receber e processar as informações que lhes chegam a todo instante. Participar ativamente da evolução das inovações tecnológicas e da própria sociedade requer uma formação continuada. A educação deve ter caráter permanente na vida de toda pessoa. Não se limita apenas a certificação formal, como a graduação, por exemplo. Acontece nas organizações, na família, na roda de amigos, em eventos, nos círculos de cultura, nas igrejas, nos sindicatos, nas associações, entre outros.

Não só na vida pessoal percebe-se a necessidade de se estar sempre em contínua atualização, mas, e principalmente, na vida profissional, onde a acirrada competitividade obriga as pessoas a lutarem por seus espaços. A revolução tecnológica passa a comandar a rotina nos escritórios das organizações e ganha quem souber usar a tecnologia para agilizar processos e gerar resultados.
Diante dessa realidade os profissionais devem estar sempre em postura de autotreinamento. Dentre as várias profissões mais diretamente afetadas com toda a mudança que tem ocorrido no mundo do trabalho está o secretariado executivo. Para se ter um melhor entendimento da realidade de formação continuada dos profissionais desta área, foi realizada uma pesquisa que subsidiou a monografia de uma aluna da pós, orientada por mim.

O público alvo foram egressas de um determinado ano e curso de Secretariado Executivo de uma das Universidades de Santa Catarina, que responderam um questionários com perguntas abertas e fechadas.

A realização desta pesquisa apresentou uma realidade de formação continuada dos profissionais de secretariado um pouco distante daquilo que se busca e se considera ideal. Muitas profissionais ainda esperam iniciativas por parte das organizações em patrocinar participações em cursos, palestras, seminários. Falta conscientização por parte do profissional do secretariado no sentido de entender que na busca de sua empregabilidade não pode esperar que as coisas aconteçam por si só ou sejam impulsionadas por iniciativa unicamente da organização com a qual têm vínculo empregatício. Cada um é responsável pela sua trajetória profissional. Aprender e aprender sempre deve ser a mola propulsora de cada profissional, aqui em particular do secretário executivo, para acordar a cada dia com mais disposição em busca de novos conhecimentos.

Os profissionais ainda têm em mente que somente formações mais técnicas integram sua formação continuada. Nenhuma das entrevistadas, por exemplo, referiu-se à qualidade de vida como motivo de formação continuada. Porém, a vida profissional alcançará a plenitude a partir do momento em que cada profissional conseguir o equilíbrio entre a sua vida pessoal, emocional e profissional. Necessário então se torna procurar viver com qualidade e equilíbrio, o que possibilitará uma convivência mais harmoniosa no espaço de trabalho e em ambientes sociais e familiares.

A idéia que se tem de formação continuada ainda é de certificação formal, o que significa a emissão de diploma ou certificado para comprovar a participação. Isso explica porque em muitos casos quando da realização de palestras, por exemplo, muitos participantes antes de se inscreverem perguntam se haverá certificado. Em caso afirmativo, fazem sua inscrição. Se a resposta for negativa, desistem de participar, porque ainda cultivam a idéia de que é o certificado que lhes garantirá a qualificação.

E o aprendizado? E o momento de interação com os outros? E a abertura aos novos contatos? E o exercício de conhecer e conviver com pessoas que pensam diferente? Esses, realmente, não têm sido considerados por uma parcela de profissionais.

No entanto, hoje é de vital importância para o profissional de secretariado aprender e aprender a ensinar. Não se pode só aprender, não se pode só desaprender, mas é necessário organizar o sistema mental para aprender a aprender e aprender a ensinar. Diante dessa realidade se torna essencial ampliar a rede de relacionamentos, interagir com as pessoas e aperfeiçoar a convivencialidade. Em todos os ambientes onde há relacionamento com outras pessoas ocorre a formação continuada, pois há a troca de experiência e a necessidade de interação ensina a ver cada ser humano como uma pessoa única, não importando as diferenças.

A participação do profissional de secretariado em processos de formação continuada deve ser espontânea e comprometida, o que irá auxiliá-lo a ampliar sua cidadania, sua liberdade de atuação e o respeito mútuo entre os componentes da categoria profissional, bem como da instituição na qual atua e da sociedade na qual está inserido. Cada um é responsável pela construção de seu conhecimento e pelo repensar de suas atitudes. Cada um escreve a sua trajetória profissional baseada no entendimento que tem dessas responsabilidades como ser humano e profissional.

Afirmo sempre com veemência que o profissional de secretariado deve conquistar certa autonomia no seu fazer e atuar profissional. A autonomia não se conquista num estralar de dedos. A conquista de autonomia exige árduos esforços e muita responsabilidade. Exige competência. Uma competência que se busca por intermédio de um aprimoramento constante e de forma intencional e sistemática.

Contudo, o sonho de formação continuada é possível. Ele deve fazer com que cada profissional tome consciência de seus direitos e deveres e de sua responsabilidade na melhoria da convivência entre todos os seres e o respeito pela natureza da qual é integrante. Significa assumir a responsabilidade por sua aprendizagem, participar de programas de acordo com as suas necessidades, desejos, angústias e curiosidades de crescimento pessoal e profissional. São ações que encurtam a distância em relação às mudanças provocadas pela tecnologia da informação e da comunicação e criam condições para você estar perto e poder fazer parte do time que administra.

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