Escribas: os precursores do secretariado

 

A

 função secretarial é antiga. Surgiu no Período Dinástico (3.200 a 525 a.C.), quando a descoberta do papiro e a criação da escrita hieroglífica deram origem ao ofício de escriba. A princípio, os escribas registravam fatos históricos, informações e copiavam leis. Com o passar do tempo, formaram um seleto grupo de sábios, que ensinava, interpretava as escrituras, encarregava-se dos documentos oficiais e cuidava das contas.

Vale salientar que os escribas - secretários do Egito Antigo - eram todos do sexo masculino. Homens que, embora pertencessem à classe de pequenos e médios empregados, desfrutavam de certo prestígio por dominar a escrita hieroglífica, famosa pela beleza e grau de complexidade de seus caracteres. Na época, já se fazia necessário frequentar a escola para aprender o ofício. Os reis mantinham escribas na corte para copiar manuscritos, escrever cartas e documentos oficiais.

No livro “Você, Secretária”, Néris Bertocco e Ângela Schneider Loyola relatam que a primeira mulher só surgiu no cenário durante a campanha Bonaparte contra a Rússia, quando Napoleão contratou uma assessora para registrar suas estratégias de batalha. Infelizmente, sua esposa Josefina foi contra e Napoleão teve que substituir a secretária por um homem.

Em 1760, a Revolução Industrial - decorrente do avanço tecnológico que viabilizou a fabricação de produtos em grande escala - lançou os alicerces da civilização e da estrutura empresarial que perdura até nossos dias. Essa evolução, entretanto, não foi suficiente para abrir espaço para as mulheres. O acesso ao trabalho nos escritórios manteve-se restrito aos homens até o final do século XIX. A mulher continuou trabalhando na agricultura, na confecção de vestimentas, no fabrico do pão e de outros alimentos por um salário que, muitas vezes, não chegava a cinquenta por cento do pago aos homens. O acesso delas ao escritório só concretizou por volta de 1870.

No livro “Tecnologia, gerência e sociedade: as transformações da empresa na sociedade tecnológica”, Peter Drucker menciona que nenhuma feminista do século XIX provocou maior impacto sobre a posição social da mulher do que a invenção da máquina de escrever e do telefone, pois ambos possibilitaram que “jovens respeitáveis e bem-educadas” deixassem seus lares paternos para viver as suas próprias custas.

Esse ingresso das mulheres nos escritórios gerou a hierarquização das tarefas e salários. Aos homens eram atribuídas funções de responsabilidade e prestígio, às mulheres restavam serviços rotineiros e mecânicos. Embora as mulheres possuíssem habilidades manuais que favorecessem a execução de tais tarefas, a limitação de sua atuação a atividades operacionais se devia também aos valores de uma sociedade patriarcal, que subestimava a capacidade intelectual da mulher.   

Com o passar do tempo, cada vez mais, a função do homem secretário foi se voltando à administração. Ele era preparado para substituir o executivo, para sucedê-lo na condução dos negócios. Por consequência, mais mulheres eram contratadas e treinadas para realizar tarefas de apoio à administração masculina. Mas foi durante a Primeira Guerra Mundial que a presença feminina se intensificou nos escritórios. Eles foram para os campos de batalha. Elas aceitaram o desafio de substituí-los.

No Brasil, a função de secretário(a) vem sendo exercida há décadas. Infelizmente, a ausência de memória nacional sobre a atividade inviabiliza o acesso a registros e informações. Na palestra proferida na IV Convenção Nacional de Secretárias, em 1976, na cidade de Salvador (BA), a Professora Lúcia Casimiro presumiu que o início da função secretarial no País tenha coincidido com a Semana de Arte Moderna de 1922.

Segundo a Professora Lúcia, a expansão do comércio do café e a implantação da indústria têxtil deram origem a modernos escritórios, abrindo vagas para as mulheres atuarem em atividades secretariais mais simples como recepção e datilografia. Isso gerou um substancial aumento do emprego da mão-de-obra feminina nas empresas de São Paulo, Rio de Janeiro e, em menor escala, de Belo Horizonte.

Em “A secretária do futuro”, ao abordar a trajetória da profissão, Liana Natalense lembra que foi a partir dos anos 50 - com chegada das multinacionais da indústria automobilística - que a secretária passou a ser vista pelo mercado como força de trabalho. Ainda assim, a secretária mulher era contratada como mera executora das atividades determinadas pela chefia.

Era avaliada por suas habilidades técnicas para execução de tarefas básicas como: datilografia, taquigrafia, arquivo, agenda e atendimento telefônico.

As condições básicas para o ingresso na função era: exímia datilografia e boa aparência – relacionada à beleza física e não à postura profissional apresentável. 



Extrato do livro> A Secretária que faz... (2010), de Eliane Wamser 

 

 

Comentários