Ser profissional do secretariado: opção ou acaso


P

or falta de outras opções de trabalho, acaso, status ou simplesmente por precisar do salário para sobreviver, profissionais de outras áreas empregavam-se como secretárias. Cursos de formação na área ainda não existiam. A maioria era autodidata e contava apenas com o ensino médio.

Em termos salariais, era uma função pouco gratificante. O mesmo já não pode ser dito em relação ao status: secretariar empresários influentes e bem-sucedidos era sinônimo de prestígio, o que acabava atraindo inúmeras candidatas para as vagas.

Algumas delas infelizmente utilizavam a profissão como trampolim para outras carreiras, uma vez que o acesso direto aos dirigentes favorecia o contato com quem detinha o poder de decisão. Essa postura prejudicou consideravelmente a imagem da categoria que, ainda hoje, não está livre dos estereótipos gerados por tais comportamentos.

Muitas, porém, ingressaram na carreira por escolha, por gostar e perceber que tinham habilidade para desenvolver as atividades inerentes à profissão. Foi o caso de Elfy que, quando criança, sonhava com uma profissão para alguém que, como ela, gostasse de acompanhar as pessoas, falasse alemão e tivesse facilidade para ler e escrever.

Alguns anos mais tarde, Elfy ficou encantada ao constatar que tal profissão existia. Nas palavras dela:

    Quando fiquei um pouco mais velha, eu vi que essa profissão, embora eu não soubesse na época, se chamava secretária.

Em 1955, ao concluir os 4 anos do ginásio, Elfy comunicou aos pais que queria ser secretária. Embora estes não se mostrassem muito favoráveis, a jovem procurou um gerente de banco - que era amigo do pai - e ofereceu-se para trabalhar. Fez um teste e foi contratada como datilógrafa. Depois, passou a exercer a função de auxiliar administrativa. Mais tarde, Elfy tornou-se secretária da Presidência de uma importante indústria têxtil de Blumenau.

Elfy – como tantas outras profissionais – começou a carreira na função de datilógrafa. Era assim que a secretária era vista nos anos 60: como uma combinação de recepcionista, telefonista, estenógrafa e datilógrafa. Na época, muito tempo era empregado na datilografia de documentos, por isso, o desempenho profissional era medido pela eficiência e agilidade com a máquina de escrever. Datilografia era um dos poucos cursos existentes para a formação profissional de secretárias, o restante se aprendia fazendo no cotidiano do escritório.

Eu, assim como Elfy, desde menina ensaiei para ser secretária. Mas foi ela, Elfy, quem desbravou os caminhos da profissão na Região e tornou-se nossa mentora. 


Fonte: 
WAMSER, Eliane. A secretária que faz. Blumenau: Nova Letra, 2010, p. 21-22.


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